quarta-feira, 23 de junho de 2010

"APITO DE LATA" ENTREVISTA ÁRBITRO DO ANO NA AFE - ANTÓNIO FERNANDES

Alguma vez te sentiste "desamparado" pela estrutura da arbitragem ao longo desta época?
De forma alguma me senti “desamparado”, penso que toda a estrutura da Arbitragem desde o Conselho de Arbitragem à Comissão de Apoio Técnico e aos próprios Núcleos trabalharam no sentido de apoiar, defender e melhorar as condições de toda a classe da arbitragem do distrito de Évora, da qual faço orgulhosamente parte. A opinião que tenho é que todos aqueles que estão na estrutura da arbitragem eborense querem sem dúvida alguma o melhor para os árbitros e têm dado o seu melhor em prol dessa causa e trabalhando na maior parte das vezes com recursos escassos, o que lhes dificulta ainda mais as suas funções, devemos enaltecer esse facto a meu ver.
Se pudesses eleger momentos que para ti foram importantes ao longo da ultima época e que te ajudaram a crescer como pessoa e como árbitro, de uma forma geral quais escolherias?
Todas as épocas aprendemos, e esta não foi excepção, mas o momento que mais me marcou e que considero que mais me fez crescer, foi quando fiquei inapto nas provas de acesso à 3ª Divisão como suplente na época 2008/2009. Por falta de experiência, por não me ter preparado da melhor forma e até devido a uma certa irreverência acabei por menosprezar as provas e capitular logo numa prova em que nunca tinha tido qualquer tipo de problemas. Neste caso, refiro-me à prova física, acabei por decepcionar todos aqueles que acreditaram em mim, foi sem dúvida uma lição de vida, costumo dizer que “aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes” e foi o que sucedeu comigo…
Foi igualmente difícil conciliar a arbitragem com os estudos visto que desde há 3 anos para cá que estudo em Faro na Universidade do Algarve residindo aí durante a semana. Foram 3 anos bastante desgastantes, especialmente esta última época, mais exigente e cansativa devido aos objectivos a que me propus ao nível da arbitragem formando equipa, e ao facto de estar no último ano da minha licenciatura, também ela em fase de decisão este ano.
Ser árbitro em qualquer parte do mundo é dificilissimo, e cada vez mais o amor á camisola se vai apagando, por isso de uma forma directa, tu achas sinceramente que a a maior parte classe da arbitragem anda cá por amor á camisola ou por demais interesses?
A arbitragem para mim é uma paixão, é dedicar a vida a uma causa, colocando muitas vezes as pessoas de quem mais gostamos em 2º lugar. Penso que não é por um simples prémio de jogo, ainda mais quando falamos de árbitros que actuam nos distritais, que as pessoas andam na arbitragem. Quem conhece o sector sabe que hoje em dia não é fácil ser-se árbitro, a arbitragem ainda é muito incompreendida, e penso que só um grande gosto pela actividade justifica certos sacrifícios.
Para além dos jogos em si, existe a preparação dos mesmos, a responsabilidade de treinar para ter bons desempenhos, etc. Tudo isto traduz-se numa grande quantidade de tempo dedicado à arbitragem. Quanto à questão monetária, seria hipócrita se dissesse que os árbitros só “andam cá” pelo gosto em apitar, obviamente que a parte monetária tem algum peso, mas como já referi não devemos olhar só para essa parte.
A união entre árbitros no seu todo nunca deu resultado, quando se fala em greves, reivindicações, enfim, em nos fazer-mos ouvir, do mesmo lado da barricada, a união nunca prevalece estando por vezes os interesses de muitos em primeira fila. Agora eu pergunto, para ti quais são as razões para haver tanta inveja no mundo da arbitragem?
Em minha opinião a arbitragem tem problemas como qualquer outro sector de actividade, ainda mais quando falamos de um grupo onde existe competitividade, é natural que haja as chamadas “invejas” a que te referes, até porque elas são incontroláveis e existem em qualquer grupo social, fazendo parte da condição do ser humano. Contudo não podemos pensar que na arbitragem apenas há “interesses e invejas”. A verdade é que a arbitragem faz parte integrante de um espectáculo que é o futebol, e na maior parte das vezes não é vista assim, sendo passada uma imagem da mesma que não favorece a sua estabilidade. O caso dos famosos” recibos verdes”, espelha a impotência, da APAF, das associações distritais e demais organizações em certas matérias que apesar dos seus esforços (note-se que têm reivindicado uma revisão há anos deste sistema que abalou o sector e até hoje está tudo na mesma) não conseguem produzir as desejadas alterações devido a factores que lhes são alheios. No actual sistema, um árbitro jovem é obrigado a colectar-se e a passar recibos verdes para receber um prémio de jogo simbólico, e ao fazê-lo perde o direito a qualquer bolsa de estudo que possa ter, perde direito ao sistema de saúde dos pais e a outros direitos sociais… penso que é nestas questões que reside um dos maiores problemas da arbitragem que é a captação de novos árbitros.
Para o ano estarás na 3ª categoria nacional, um objectivo alcançado com muito suor e amor pela causa da arbitragem. Já presentiaste tal experiência como árbitro assistente, mas agora na papel de árbitro principal, quais as tuas espectativas? quais os teus objectivos?
É verdade que já tenho bastantes jogos realizados no nacional como árbitro assistente, visto que com bastante prazer e orgulho acompanhei nomeadamente o Hugo Quintino durante 2 épocas na 3ª Divisão Nacional e pontualmente em alguns jogos outros colegas. O facto de ter realizado uma grande quantidade de jogos penso que será útil no futuro próximo, sendo que a 3ª Divisão não será certamente um ambiente novo para mim, mas como árbitro será uma experiência diferente, que me proporcionará outras sensações e também representa um aumento da responsabilidade das minhas funções. Os meus objectivos passam por manter-me no quadro nacional da 3ª Divisão, um quadro bastante competitivo, trabalhando sempre com humildade e no sentido de fazer o melhor possível e dignificar a arbitragem eborense.
Todos nós queremos trabalhar com os melhores, tu certamente ja tens a tua equipa pensada para a próxima época. Não querendo eu ser indiscreto ao perguntar-te quais os teus assistentes, gostava eu de saber no que te baseaste para escolheres as pessoas que te acompanharão ao nacional. Quais os requesitos, assim lhe chamando, para te acompanharem?
Sinceramente nada está definido para já, no entanto quem me conhece sabe que a minha ideologia de um bom trabalho de equipa assenta nos princípios do empenho, da determinação, humildade, companheirismo, do respeito mútuo, e muito importante, na confiança!
Em fase de conclusão desta entrevista, gostava de saber a tua opinião sobre a arbitragem distrital, mais nomeadamente do arbitragem eborense. O que para ti está mal, o que para ti poderia melhorar, o que para ti se podia criar e manter, enfim uma breve analise critica/construtiva do que se passa no nosso distrito.
Julgo que a arbitragem distrital registou uma evolução gradual e foram obtidos resultados positivos a nível nacional nos últimos anos assim como bons níveis de aproveitamento a nível distrital, no que diz respeito ao acesso aos quadros nacionais. Existem árbitros com valor no quadro distrital, é necessário que consolidem o seu crescimento e que estejam preparados para ascender aos quadros nacionais, julgo que devemos ter confiança neles e apoiá-los. Também nos quadros nacionais temos pessoas dedicadas (árbitros e observadores) com muito valor que devem ser enaltecidas. Positivamente não posso deixar de destacar o estabelecimento dos centros de treino, o acompanhamento técnico dos árbitros feito por parte da Comissão de Apoio Técnico, as sessões teóricas elaboradas nos núcleos, e como é óbvio o empenho dos árbitros que trabalham para atingir os seus objectivos. Nos aspectos que podemos melhorar, penso que os núcleos devem ser estimulados e que estes podem e devem ter uma maior importância no crescimento e formação dos árbitros, mas neste caso também é fundamental uma maior colaboração e adesão aos núcleos.
Gostaria por ultimo que deixasses uma palavras aos visitantes deste blog e acima de tudo ás pessoas tuas amigas que visitam o "Apito de Lata" e que certamente se encherão de orgulho na pessoa que és e no árbitro que estás a ser.
A minha mensagem é de agradecimento a todos os que me apoiaram e acreditaram em mim, que tiveram presentes não só nos bons, mas como também nos maus momentos, sem eles não teria conseguido seguramente. O meu compromisso é com o trabalho, com a humildade mas vontade de querer sempre mais, porque afinal de contas o “sonho comanda a vida”.
Luís, queria igualmente felicitar o teu blogue e desejar-te que continues com o bom trabalho que tens feito ao longo destes anos em prol da nossa causa!
Um abraço.

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