quarta-feira, 17 de março de 2010

HOJE FALO EU DE ARBITRAGEM (1) - VITOR PIRES

Como interveniente do futebol distrital há perto de 30 anos, primeiro como jogador e desde há dez anos como treinador, tenho uma opinião formada sobre a arbitragem distrital. Muito evoluiu no futebol distrital, diria mesmo que todos os intervenientes evoluíram bastante, desde treinadores, jogadores e também a arbitragem. Penso que a única regressão está nas assistências aos jogos, em quase todos os campos se vêem menos espectadores do que à alguns anos atrás.
Falando da arbitragem, é inegável que o nível médio subiu bastante. No entanto há sempre formas de subir mais o nível. Comecemos por falar da forma como os árbitros são encarados pelos outros parceiros do jogo. Será a mais correcta? Em minha opinião não, regra geral o árbitro não é visto como um parceiro interveniente no jogo mas sim como um mal necessário.
Faz parte da cultura do cidadão português nunca ser responsabilizado por nada, basta ver os políticos, nunca nenhum é responsabilizado por nada de mal que aconteça. Então é muito mais fácil culpar um árbitro do que culpar os jogadores, o treinador, os dirigentes. Infelizmente está instituído aquela cultura “à Porto”, que consiste em reclamar sempre, basta que a decisão do árbitro seja contra os interesses da nossa equipa, vamos protestar sempre e fazendo muito barulho. Ainda neste fim-de-semana, num jogo da minha equipa de Infantis, vi um treinador a ter este comportamento. Os miúdos vêem o treinador ter esta atitude e acham que é a atitude correcta a tomar. Este treinador está a ter uma atitude pedagógica com os seus atletas? Obviamente que não, não está a formar atletas educados e correctos.
Cada vez se nota mais a existência de árbitros cada vez mais novos e melhor preparados a todos os niveis, já não se vai para a arbitragem só porque se falhou uma carreira de futebolista, já se vai por vocação, o que por si só é um bom sinal.
Um dos problemas que os árbitros têm de ultrapassar é o facto de muitos intervenientes no jogo não saberem de forma correcta as leis do jogo, penso que muito haveria a fazer a este nível.
Outro grande problema é o cada vez menor número de árbitros em contra ciclo com o cada vez maior número de jogos, o que obriga a que os árbitros comecem a apitar jogos no Sábado de manhã e terminem no Domingo à tarde, precisamente quando tem lugar os jogos mais importantes.
Tal como há bons e maus jogadores, bons e maus treinadores, também há bons e maus árbitros. Acho que há árbitros com mais vocação do que outros, acho que cada um deles tem características próprias e para os melhores jogos deveriam ser sempre nomeados os melhores árbitros, o que na minha opinião nem sempre acontece.
O árbitro deveria sempre perceber que não são máquinas que estão a jogar ou a treinar, são seres humanos e como tal tem emoções. Sendo o futebol um jogo de emoções é normal por vezes haver alguma reclamação, desde que não se ultrapasse as regras da boa educação, os árbitros não deveriam dar tanta importância a estas pequenas coisas.
Muitas vezes nem é tanto o cometer um erro técnico, é mais o que se segue, basta ter visto a recente reportagem da Sport Tv sobre o Estrela de Vendas Novas e a forma como o meu colega Carlos Vitorino foi expulso. Este episódio leva-me a um tema pertinente, que é o facto de muitas vezes os árbitros entrarem em campo a pensar em acontecimentos anteriores, nomeadamente episódios de outros jogos. Quando isso acontece é impossível ser isento, quando termina um jogo, o que se passa lá dentro deve lá ficar, e não haver represálias mais tarde. Claro que isto também se aplica aos outros intervenientes no jogo.
Penso que deveria haver pelo menos no inicio de cada época desportiva uma reunião entre os árbitros e os treinadores. Seria uma forma de melhorar as relações pessoais e limar aspectos de ordem técnica, seria benéfico para ambas as partes.
Antevendo alguns comentários devo dizer que as minhas equipas já foram beneficiadas e prejudicadas por decisões arbitrais, ainda neste fim-de-semana o Santiago Maior perdeu um jogo com um erro grosseiro do árbitro assistente. Não coloco no entanto a idoneidade do senhor em questão, por muito que me tenha custado aceitar aquela decisão.
Resumindo, penso que todos os intervenientes no fenómeno futebol deveriam proporcionar uma melhor interacção entre todos, de forma a encararmos os erros dos árbitros como naturais e proporcionarmos condições para errarem cada vez menos.Cumprimentos a todos os parceiros de jogo, árbitros, treinadores, directores, jogadores e a todos os adeptos que se deslocam a qualquer jogo para apoiar o seu clube.
Vítor Pires
(Treinador da Associação Desportiva e Cultural de Santiago Maior)

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