sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ARTIGO DE OPINIÃO DE JOSÉ GUERRA (7)

ENTREVISTAS RÁPIDAS

Quase todas as semanas ouvimos declarações de treinadores a queixarem-se da arbitragem, normalmente acontece sempre que os resultados não satisfazem as pretensões desses responsáveis. Hoje, essas declarações têm uma maior visibilidade até porque a chamada "entrevista rápida", após o jogo, é ideal para justificar o insucesso da equipa, servindo as desculpas para acalmar os adeptos e, na maior parte das vezes, colocá-los contra o árbitro já que é aquele que não tem espaço nem ninguém que o defenda. O requinte chegou ao extremo de serem os próprios ex-árbitros, agora comentadores e fazedores de opinião, a escamotear os pressupostos "erros" da arbitragem.
Mas, voltando aos comentários e desculpas dos treinadores, podemos concluir, ao ler os textos de José Sampaio, escritos em 1967, que são quase tão antigas como o próprio futebol.

Com a devida vénia, sobre o assunto José Sampaio escrevia nessa altura:

«Não sabemos se os treinadores portugueses (ou ao serviço de equipas portuguesas) supõem que nos dão uma grande novidade quando, publicamente, nas pequenas entrevistas que se fazem após os jogos, desancam o nível da arbitragem nacional.
De resto, o clima em que está a viver a arbitragem é de tal forma ostensivo que nem o mais humilde dos adeptos do futebol – aquele que lá vai “quando o rei faz anos” – ignora que, de facto, são cada vez mais frequentes os lapsos atribuíveis à arbitragem e que esse clima é nefasto para o futebol português».

Reforço que, apesar do texto parecer actual, de 2008, ele foi escrito há praticamente 40 anos, em 1967. José Sampaio dizia ainda:

«...De qualquer forma, é igualmente necessário que o homem que, domingo a domingo, protesta na sua bancada contra os erros de arbitragem não continue, inconscientemente, a ser um “pau mandado” de opiniões alheias bastante suspeitas. Realmente “pomos o preto no branco” denunciando as campanhas que se têm desenvolvido contra a arbitragem, excitando lamentavelmente a opinião pública afecta a esses clubes. E temos agora que denunciar a deplorável moda que se instalou no nosso meio com os treinadores a afazer, no final de cada encontro uma critica desapiedada à decisões do árbitro. Quando a sua equipa perde claro, já que quando ganha está tudo muito bem. (...)

Mas é muito mais triste que, neste estado de coisas, certos treinadores esqueçam quanto à sua posição o mau exemplo disciplinar que fornecem aos seus pupilos acusando publicamente um homem que finalmente é a autoridade do jogo...se eles pretendem dessa forma desculpar os insucessos das suas equipas que se desenganem. Apesar das paixões desbragadas e dos raciocínios precipitados, os seguidores de uma determinada equipa acabam sempre por vislumbrar as verdadeiras razões dos seus insucessos...»

Pois é! Já em 1967 a critica, muitas vezes exagerada, ao trabalho dos árbitros por parte dos treinadores no final dos jogos era discutida, assim como nos dias de hoje já que os pressupostos se mantiveram inalterados. O futebol vive da emoção e muitas vezes esta sobrepõe-se, no imediato, à razão que, no entanto, prevalece mais tarde ou mais cedo e aí os bons treinadores ficam e os maus, por mais que atirem culpas a terceiros, saem. Ontem como hoje.

JOSE GUERRA

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Parece que a questão dos treinadores se mantém com o passar dos anos. Talvez o Q.Flores venha mudar isto. Pelo menos não se desculpa com a arbitragem. Ou melhos, será uma característica dos espanhóis a trabalhar em Portugal. Já o Camacho também era correcto. É assim. Aprendemos com os de fora.

28 de novembro de 2008 às 17:52  
Anonymous Anônimo disse...

Então o Guerra já se cansou ou há algum problema?
Já começava a gostar dos textos dele e da sua antologia. Espero que esteja tudo bem consigo, velho camarada.

8 de dezembro de 2008 às 10:49  

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