quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PSS...QUERO DIZER UMA COISA!

Não vou escrever sobre José Guerra, um es-árbitro eborense que gosta de contar e guardar histórias, que gosta de futebol e de arbitragem, que tem a lucidez e a coragem de apontar o que vai mal e também o que vai bem no seio da arbitragem e também na vida do pais.
Não vou escrever sobre José Guerra, benavilense das sete costados, que ama a sua terra que sofre por ela, que se emociona quando fala dessa bela terrarodeada de água e árvores de fruto.
Vou escrever sim sobre o exemplo de José Guerra, reformado da Companhia União Fabril e retirado desde há pouco tempo de uma actividade que gostava e o fazia feliz, motorista de crianças de uma instituição eborense.
José Guerra é um exemplo, não por ter trabalhado durante algumas dezenas de anos na CUF ou de ter transportado os meninos para a escola, não por gostar de futebol e de arbitragem, não por amar a sua terra. O ex-árbitro é exemplo porque quer continuar activo, quer continuar actuante, quer continuar a dar um contributo para a melhoria da sociedade.
Por isso, quando muitos outros que ainda estão muito longe da idade da reforma, se resignam aos infortúnios da vida e atiram a toalha ao chão, perdem animo e alegria, perdem muitas vezes a lucidez e a capacidade de lutarem pela vida por um mundo melhor, o José Guerra não desiste, encontra sempre uma actividade, um entretém, para continuar a sorrir á vida e a ser útil a todos nós.
"Já viu o que escrevi na Internet?", esta é uma pergunta frequente que quando encontro o José Guerra tenho de ouvir. "Eles não gostam...mas têm de ler...", e a conversa prolonga-se, fico a saber mais de futebol e de arbitragem e tento passar para ele alguma informação que ele desconhece. Ficamos mais ricos os dois.
José Guerra tem um espólio admirável de recortes de imprensa, atrevo-me a dizer que nas centenas de quilos de papel de jornal que estão encadernados na sua casa, está a história dos episódios mais gloriosos e mais tristes do futebol portugues das ultimas décadas.
Diariamente recorta os artigos, as noticias que compilando por temos, que depois dão publicações de valor incalculável, pelo menos daqui a uns anos.
Um dia o José Guerra descobriu a Internet. Foi-me dizendo que o trabalho que fazia na compilação das noticias, estava a perder interesse porque na Internet está tudo. Lá lhe expliquei que não está tudo, ou pelo menos ainda não está tudo ao alcance de um clique, é necessário saber procurar, é necessário ter alguns conhecimentos.
Passado um tempo, o José Guerra veio ter comigo e disse "vou tirar um curso de computadores, vou comprar um e vou criar um blog, para colocar as minhas ideias sobre o que se vai passando no futebol e na arbitragem".
Comecei então a ler as suas crónicas no sitio dos árbitros de Évora, Apito de Lata, vieram então os desabafos das criticas que lhe faziam, muitas vezes injustas e maldosas. La lhe expliquei que isso faz parte da vida...quem se dá, quem não se esconde no anonimáto corre sempre esses riscos, mas o importante é a consciência, e se estamos bem com a nossa consciência se deliberadamente não quisermos fazer mal a niguém, mas sim expressar a nossa opinião, então vale a pena continuar.
Tempos mais tarde lá me informou que já tinha o seu sítio, joseguerra.oarbitro.com, onde para além das opiniões estava o seu espólio, os seus tesouros a sua vida, digamos assim.
O mundo novo, o da sociedade em rede faz-se com todos, com o Nuno de oitos anos que se deslumbra com o Magalhães e com o futuro, com o José Guerra de mais anos e que se recorda do passado e quer e está preparado para viver o futuro.
Muitos estão desanimados, não têm emprego, não têm a vida que sonharam, parece que nada vele a pena. Que meditem no exemplo de José Guerra, que façam como ele, não desistam da vida, deêm luta ao infortúnio, á solidão, há sempre alguem á nossa espera, há sempre algo para fazer, todos somos necessários para construir um mundo novo e melhor.

Mário Simões, Colaborador do Diário do Sul

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