terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ARTIGO DE OPINIÃO DE JOSÉ GUERRA (9)

PROTESTAR


Dizia, há dias, o líder da Comissão de Gestão do Belenenses em entrevista ao Jornal "A Bola" que todos os Domingos se protestam as arbitragens em caso de derrota. E não é apenas ele que o afirma.
Tenho bastante pena que a nossa imprensa desportiva não possa publicar e dar a conhecer fabulosos artigos que grandes jornalistas, árbitros e dirigentes escreveram há quase meio século.
Há 44 anos, João Gomes, um árbitro do Porto, escrevia exactamente sobre os protestos, num tom semelhante, salientando a razão de queixa da sua classe, ou seja, estarem os árbitros proibidos de eleger os seus dirigentes. Hoje, como há quarenta e tal anos, esta proibição mantém-se.
João Gomes não acreditaria que hoje as coisas estão iguais ou piores, mesmos passadas mais de três décadas sobre o final da ditadura e da censura, altura em que o mesmo publicou as suas opiniões.
A Democracia ainda não chegou à arbitragem de forma a proporcionar aos árbitros a possibilidade de elegerem os seus dirigentes.
Sobre o artigo de João Gomes deixo aqui, com a devida vénia, um texto que publiquei, já lá vão cerca de três anos, no Diário do Sul, para que possam verificar que "quase nada é novo no futebol".
«Não há dúvida nenhuma que protestar é uma moda que pegou e hoje não há ninguém que não proteste. Aliás, protestar é nos dias que correm, uma forma de afirmação, que é legítima se for regida pela verdade e não for apenas gratuita.
O problema é que muitas vezes os protestantes, são eles próprios o garante do sistema contra quem protestam. Mas, desenganem-se aqueles que pensam que é de hoje o protesto ou que é de hoje o protesto mal direccionado. Desde sempre no futebol, os que protestam parecem ignorar ou ignoram mesmo o que está em causa quando o fazem.
Em 1964, João Gomes, um árbitro do Porto escrevia o seguinte contra os protestantes: "Amiúde se ouvem e lêem verberações e acusações aos dirigentes dos diversos departamentos desportivos. Todavia elas são destituídas de qualquer razão, porque na maioria das vezes os descontentes são vítimas de si próprios." E vai mais longe ao afirmar que "triste panorama do pobre desporto, em que se arranjam lugares para homens, quando se devia escolher os homens para os lugares."
Esta frase não é de hoje, é de 1964, e, no entanto, permanece extremamente actual. João Gomes explica então a sua teoria: "Ainda há dias conversando com um amigo que já não via há bastante tempo, a breve trecho falámos de desporto e do seu clube, de que tem sido por diversas vezes director, tendo ele replicado que já pouco ligava ao desporto, desiludido e desgostoso com diversos casos...".
Depois de ouvir os lamentos do amigo, o articulista resolver esclarecer este dirigente desportivo comentando "Olha, não tens razão nenhuma. Queres ver: do que se passa nas Associações, Federações, Conselhos Técnicos, etc, sejam de que modalidade for, a culpa é vossa, tua e dos teus colegas. Quanto aos árbitros, é certo que haverá uns mais competentes do que outros, aliás como em todas as actividades da vida, mas ainda disso a culpa continua a ser vossa. Ele arregalou os olhos e eu nem o deixei falar. Queres saber porquê? Quem elege as direcções das Associações? São os delegados dos clubes, respondeu ele. Quem elege os Conselhos Técnicos, as Federações, etc? Como vês todos os cargos da escala hierárquica desportiva são providos, directa ou indirectamente pelos clubes.Ora, sendo assim, que razão vos assiste para protestar contra o que julgais menos acertado? Tivessem os dirigentes dos clubes a necessária ponderação e a indispensável personalidade para recusar a eleição de indivíduos que não reunissem um apreciável somatório de qualidades, e o desporto nacional caminhava muito melhor."
E João Gomes rematava "razão de queixa temos nós, a quem nos são impostos dirigentes, sem que sejamos ouvidos para eleger quem quer que seja, tendo de aceitar quem os clubes querem nomear...".
Como se vê protestantes há muitos, ontem como hoje a maior parte das vezes protestam sem razão, por desconhecimento, porque não acredito que protestem por má fé... mas no entanto vão fazendo um ruído que afasta as pessoas da resolução dos verdadeiros problemas do desporto português.»

JOSE GUERRA

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Este texto é a comunicação do Olegário Benquerença no Congresso do Desporto em Óbidos, em Janeiro de 2006.

A Reforma do Sistema Desportivo - Arbitragem no Século XXI

Ao aceitar o convite para estar presente num Fórum como o Congresso do Desporto e, simultaneamente, participar activamente na discussão de um assunto da importância da Reforma do Sistema Desportivo, foi, naturalmente, fácil seleccionar a área da minha intervenção.
Participante activo no fenómeno desportivo e, mais concretamente, actor num sector tão específico, conturbado e apaixonante como a arbitragem de futebol, procuro nesta intervenção apresentar um ponto de vista assente na minha experiência de mais de 20 anos ligado ao futebol, 16 dos quais ligados à arbitragem.
Algumas das questões afloradas constam já na moldura legislativa portuguesa, nomeadamente na Lei de Bases do Sistema Desportivo e/ou no Regime Jurídico das Federações. Contudo, passados alguns anos sobre a sua implementação, está chegada a hora de reformular conceitos, concertar práticas e, acima de tudo, corrigir desvios que tenham levado à descaracterização do modelo pensado pelo legislador naquela época.
A primeira constatação neste início de século é a evitabilidade da profissionalização da estrutura da arbitragem das competições profissionais, acompanhada de semelhante medida para os respectivos quadros de árbitros. Cabe aqui uma referência muito particular ao Futebol, ao Basquetebol e ao Andebol, modalidades que deram já significativos passos na criação de uma “indústria desportiva”, onde o conceito “desporto” foi substituído por um moderno “espectáculo”.
Qualquer competição pressupõe um rigoroso cumprimento das suas regras, tarefa entregue a homens, designados como “juízes” ou “Árbitros”, a quem são pedidas responsabilidades sem as necessárias contrapartidas ao nível da formação, enquadramento técnico, estatuto de carreira e independência funcional e administrativa.
A reforma central do desporto português, no que à arbitragem diz respeito, está, em minha opinião, claramente associada à separação definitiva entre o desporto profissional e o não-profissional.

Não pode existir um espectáculo com a dimensão, impacto social e gerador de receitas com a expressão do desporto profissional sem o consequente acompanhamento na profissionalização da estrutura de arbitragem. Obviamente que, de acordo com a legislação portuguesa e disposições das confederações internacionais, as respectivas federações continuarão a tutelar ambas as estruturas.

Assim e no campo legislativo, permito-me sugerir algumas medidas, pensadas a partir da clara e efectiva separação acima mencionada:

1. Ao nível do ensino escolar obrigatório
Integração de um novo módulo, denominado “Arbitragem Desportiva”, no seio do Projecto “Desporto Escolar”;

Com esta medida, seria mais fácil captar recursos para a arbitragem, além de permitir aos jovens a experiência de ajuízamento e, consequentemente, a preparação de melhores atletas, dirigentes e adeptos no futuro. Este módulo seria ministrado por monitores oriundos desta área, nomeadamente Árbitros do Quadro Profissional com habilitação pedagógica apropriada.

2. Ao nível do desporto não-profissional
Criação de um Centro Nacional de Formação de Arbitragem;

Neste organismo seriam formados todos os Árbitros, Juízes Desportivos e restantes recursos humanos que, posteriormente seriam colocados ao dispor de cada modalidade. Para efeitos legislativos, seria dada equivalência ao actual ensino técnico-profissional.

Reconhecimento do Árbitro e Juiz Desportivo como Agente de Serviço Público;

Esta medida visaria equiparar estes agentes a outros servidores do Estado e da causa pública, a exemplo de bombeiros, militares, socorristas, etc.
Um conjunto de regalias sociais, fiscais e outras, permitiriam uma maior e melhor captação de recursos, contrariando a tendência actual de extinção de quadros, com consequentes reflexos no futuro da actividade e competições desportivas.

Reconhecimento formal do estatuto do “Árbitro do Futebol Não-Profissional”, com isenção de encargos fiscais e sociais actualmente em vigor;

O regime actualmente em vigor, equiparando os Árbitros do futebol profissional, aos do não-profissional, cria distorções graves, injustas e até, nalguns casos, convidativos ao abandono precoce da actividade, com claro prejuízo para a modalidade. A protecção destes agentes e, muito especialmente, dos jovens até aos 18 anos é uma prioridade para qualquer reforma do sistema, na medida em que se torna o garante da regeneração dos recursos humanos afectos ao sector.

3. Ao nível do desporto profissional

Equiparação do Árbitro e/ou Juiz Desportivo a Atleta de Alta Competição;

Num regime de Arbitragem Profissional, o qual estaria assente num quadro semelhante ao actual lote da 1ª Categoria Nacional, os elementos dele integrantes passariam a estar abrangidos por legislação específica e protectora para efeitos escolares, académicos, laborais, etc.

Consagração do Estatuto Profissional do Árbitro e/ou Juiz Desportivo;

O enquadramento legal, fiscal e social destes Agentes, nomeadamente a ascensão, progressão e posterior reintegração no mercado de trabalho, seriam matérias a incluir neste campo.
Após a consumação destes e outros pontos fundamentais para a modernização do tecido legislativo/desportivo do nosso país, outras acções deveriam ser levadas a cabo ao nível das Federações Desportivas.

Eis algumas propostas, assentes no estudo das carências do futebol:

􀀹 Independência total do ponto de vista técnico, orgânico, administrativo, logístico e financeiro do Conselho de Arbitragem (inserido no seio da respectiva Federação);
􀀹 Eleição dos Dirigentes de Arbitragem pelos Árbitros de todas as categorias e demais recursos afectos ao sector (observadores, formadores, etc.);
􀀹 Criação de uma estrutura técnica de âmbito nacional, com a existência de um Director Técnico Nacional (DTN), responsável pela coordenação de todo o processo de formação;
􀀹 Alargamento desta estrutura ao nível das Associações Distritais, com a consequente nomeação de um DT Distrital, directamente dependente do DTN;
􀀹 Integração do quadro de Árbitros Profissionais nesta estrutura, nomeadamente no acompanhamento de Talentos e formação ao nível do ensino (desporto escolar);

Este contributo, naturalmente simples, desinteressado e assente apenas em experiência vivida ao longo de uma vida ligada ao desporto, não pretende ser mais do que um conjunto de ideias soltas tendentes a fazer reflectir aqueles que, como eu, amam o desporto, o futebol e o seu país.
Uma palavra final de agradecimento à Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto e ao Instituto do Desporto de Portugal pela possibilidade que me deram de poder participar num evento com a dimensão e importância deste Congresso.

A todos, o meu muito obrigado!

Óbidos, 05 de Janeiro de 2006

16 de dezembro de 2008 às 08:58  
Anonymous Anônimo disse...

Dirigentes, Árbitros e Futebol


O que faz acorrer certas figuras aos clubes , dá que pensar . Seria exaustivo fazer uma relação com os nomes de tantas e tantas pessoas que têm passado pelos clubes portugueses .
Acredito , muito sinceramente , que as motivações serão as mais diversas . Desde figuras que alcançaram notoriedade no campo político , em circulo fechado , e por isso desejam mais popularidade, com objectivo de voos mais altos .
Gente que atingiu tudo na vida , principalmente no mundo empresarial , mas que lhe falta atingir o reconhecimento público .
Outros, ainda, com intenções menos confessadas e finalmente uns tantos que se dedicam a servir a causa pública .
No seu conjunto, o futebol , movimenta hoje interesses importantíssimos. É dentro dele que mais se fala no famigerado « sistema » . Muitas pessoas acreditam que , neste mundo , as coisas não acontecem por acaso .
Parece haver , em determinados momentos , uma mãozinha invisível , a fazer acontecer o inevitável . Lá isso pode !
Muito se especula , nomeadamente em relação às arbitragens . Os árbitros estariam na opinião de muitos , sujeitos aos reflexos condicionados estudados por Pavlov , melhor dizendo , o mérito de cada actuação teria muito mais a ver com o modo como servia o “ sistema “ , do que pela exibição produzida em cada Domingo . Deste modo acabam sempre por descobrir , que só têm a ganhar , actuando de um certo jeito e a partir desse momento já o fazem instintivamente. Mesmo com assobios e vais à mistura .
As receitas dos clubes parecem ser outra fonte de mistério , pois não há dúvida , de que as despesas são impressionantemente elevadas . Os estádios só enchem , na melhor das hipóteses , meia dúzia de vezes por ano . As receitas das transmissões televisivas não podem chegar para tanto ! As quotas dos sócios de pouco valem ... enfim , que faz um certo mistério faz .
Nos tempos que correm , a população está tão alienada pelo futebol , que ninguém conseguiria admitir , fins de semana sem jogos da Liga de Clubes .
No fundo , o futebol mitiga muitos dos problemas do quotidiano ,que afligem as pessoas e as famílias .
Talvez por isso mesmo , ninguém ultrapassa a mera sensação que reside , em si mesmo, de haver um certo mistério à volta deste mundo do futebol . Estas linhas foram escritas, até aqui, em 2002 ( só um louco o faria ), hoje, vale a pena abordar o "Apito Dourado". Assim se chamou e começou em 2004 ! Meteu escutas telefónicas que ficaram gravadas ( a linguagem era vernácula) e vieram a público. Depois de sete anos de investigação e de processos judiciais, o “Apito Dourado” chegou à barra dos tribunais. Pelo menos alguns dos inúmeros processos. Ao todo foram 170 arguidos, mais o Presidente da Liga, que responderam às acusações de corrupção desportiva activa, passiva e prevaricação. Os árbitros, teriam beneficiado da oferta de artigos em ouro, "fruta " ( meninas)e outros presentes..... Aqueles que não agradavam, nas suas actuações, ao “sistema” , com a opinião dada pelo observador do jogo recebiam uma avaliação fraca. Instalou-se o medo entre eles! O "sisema funcionou mesmo, durante muitos anos. A verdade desportiva foi defraudada.
Alguns dos arguidos são figuras públicas, desde dirigentes desportivos, a autarcas e responsáveis pela arbitragem. Mesmo assim a "montanha pariu um rato", pois, só houve acusação para um limitado número de jogos. Era preciso expôr o processo publicamente, mas, sem grande profundidade...... para não assustar . Mudar alguma coisa, também, para que as coisas possam ficar, mais ou menos, na mesma! Vamos ver ....no futuro ?
Entretanto, na parte final , este processo foi chamado de " Apito Final" , Freitas do Amaral sentenciou como parecer: ".....não deixa ainda de sugerir aos responsáveis da FPF a realização de eleições intercalares para o seu órgão jurisdicional, considerando-o «ferido de morte e sem «condições, internas ou externas, para continuar a exercer as suas funções». O "sistema" afinal sempre existiu ! E talvez ainda exista !

António Reis Luz no blogue Luz de Queijas (luzdequeijas.blogs.sapo.pt)

16 de dezembro de 2008 às 10:27  
Blogger Leonel Craveiro disse...

Pena é que os nossos politicos não estejam virados a grandes reformas neste campo.

16 de dezembro de 2008 às 12:16  
Anonymous Anônimo disse...

Há quatro anos atrás, no dia 10 de Dezembro de 2004, Jorge Coroado deu esta entrevista ao DN.
O que mudou?

«A arbitragem está muito dependente de amizades»

Não ficou surpreendido com o 'Apito Dourado', denuncia privilégios dados aos juízes internacionais e aponta exemplo da Espanha de 70: «É preciso limpar todos os dirigentes»

rui frias Arquivo DN


É um dos ex-árbitros que estão a colaborar com a Polícia Judiciária neste caso do «Apito Dourado»?

Sobre isso só sei o que vi ontem na primeira página de um jornal.

Mas concorda com essa metodologia?

Há uma comissão de análise na Liga e uma comissão de apoio técnico na FPF, compostas por pessoas que têm como responsabilidade analisar os árbitros, relatórios de árbitros, relatórios de observadores. Se apesar disso, a Justiça recorre a outras pessoas... a Justiça é que sabe.

Surpreende-o o envolvimento de árbitros neste processo de corrupção?

Não. Esta é uma sociedade global. E é admissível e compreensível que também entre os árbitros, e principalmente no futebol, haja pessoas com atitudes indignas. Convém não esquecer que esta é uma das 10 maiores indústrias, com grandes volumes de negócio envolvidos.

Mas os dirigentes da arbitragem não andaram ao longo dos anos a esconder a cabeça dos problemas que lhes passavam à frente?

É verdade. Adoptaram a táctica da avestruz. Não se pode esconder a realidade. E a arbitragem deveria ter funcionado como numa família honrada, onde um pai com bom senso às vezes tem de dar dois tabefes nos filhos para corrigir vícios.

Os dirigentes da arbitragem têm responsabilidades na suspeição sobre o sector?

Toda a estrutura da arbitragem tem grandes responsabilidades pelas dúvidas que existem sobre o sector e pela ideia que se construiu em torno da arbitragem portuguesa. Por exemplo, eu quando estava no activo sempre discordei de muitos privilégios, como aqueles dados aos árbitros internacionais... Não podem ser avaliados de forma diferente, devem ser penalizados de igual modo. A estrutura dirigente da arbitragem facilita e permite atitudes displicentes de determinados árbitros, que se sentem respaldados na amizade de alguns observadores.

E acha que a corrupção terá a ver com essas ligações?

Não tem forçosamente a ver com, mas forçosamente que essas ligações permitiram estes problemas.

Uma estrutura baseada em amizades não cria dependências perigosas?

O mundo do futebol é uma micro sociedade em que todos se conhecem, uns mais outros menos. E aqueles que não se conseguem afastar de grupos de pressão ou de certos convívios têm mais dificuldade em avaliar objectivamente. Há três semanas onde o árbitro não esteve particularmente bem, o observador ao jogo não estava no lugar regulamentar que lhe é destinado, mas no camarote, no lugar imediatamente atrás do presidente do clube visitante, que por acaso até era o clube preponderante da associação distrital onde o árbitro está filiado.

É um mundo dependente das amizades o da arbitragem?

Há demasiada dependência dessas relações de amizade. Os árbitros procuram colocar-se junto de quem os classifica.

A quem interessam esses sistemas de avaliação dos árbitros?

Não interessam a ninguém de bom senso, mas interessam sempre a alguém. Quando acabei a carreira fui convidado para assessor da Federação e um dia veio um observador ter comigo a apresentar-me um jovem árbitro da sua associação, a dizer-me para estar atento porque era uma jovem promessa...

Como se pode dar transparência à arbitragem?

Desde logo, que os seus responsáveis se deixem de protecções corporativistas bacocas, sejam objectivos e cumpram o princípio de equidade entre todos os intervenientes.

É favorável à publicação dos relatórios dos observadores?

Seria agradável. Para vermos quantas injustiças e incongruências são transmitidas nos boletins. Ainda há uns dias estive num jogo que foi observado por uma pessoa que eu conheço e no fim discutimos alguns lances. Eu perguntava-lhe então e aquele erro?, e ele respondia sim, mas safou-se bem, ou então e que queres?, ou não lhe toco, com o estatuto que tem pode fazer estas coisas... Em causa estava um árbitro internacional. Mas há outros exemplos: no meu tempo, os árbitros sabiam no princípio das épocas o grau de dificuldade atribuído aos vários jogos [um dos itens para a classificação dos árbitros]; agora, só quando conhecem a classificação final é que sabem o grau que foi atribuído aos seus jogos. Ou melhor, alguns sabem antes, mas são poucos...

E porque é que não se dá autonomia do sector aos árbitros?

Vejo muita gente a falar no assunto, mas ninguém toma iniciativas. Pelo que concluo que as palavras não correspondem às intenções.

Acha que há muitos árbitros em actividade com medo do «Apito Dourado»?

Não direi inseguros ou com medo de serem envolvidos. Mas estão certamente preocupados e tristes por se verem metidos no mesmo saco. Não só os árbitros actuais, como ex-árbitros e pessoas ligadas à arbitragem.

O «Apito Dourado» vai servir para limpar ou piorar a imagem da arbitragem?

Se servira para clarificar comportamentos, acho óptimo. Se este processo for apenas fogo fátuo só servirá para adensar dúvidas. E nesta altura já há homens com uma mancha e que dificilmente poderão voltar a assumir um lugar na arbitragem.

Muitos dos dirigentes envolvidos são verdadeiros «dinossáurios» do futebol português, que vêm já desde o seu tempo. Alguma vez desconfiou deles?

O que posso dizer é que o futebol português precisava de fazer o que fez o espanhol na década de 70, em que se entendeu que para se fazer uma reforma das estruturas todos os dirigentes à data tinham de ser afastados e proibidos de voltar a cargos desportivos. Estou em crer que seria uma situação a adoptar em Portugal. Eu, nesta altura, não ponho a mão no fogo por ninguém.

16 de dezembro de 2008 às 15:53  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial